
Untitled Story - Chapter 03 - Empty Promise (In Portuguese)
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Assim que a família se pôs a andar, Thanos solicitou a Kilina e ao Fahl que escondessem suas armas, e eles o fizeram facilmente ao colocá-las em seus bolsos. Thanos, devido ao tamanho de sua shotgun, teve de colocá-la no espaço que havia entre suas costas e a mochila, o que tornou as coisas um tanto quando desconfortáveis. Não que ele ligasse muito para isso, de qualquer modo.
Fahl olhou em volta e notou que não só a família dele, mas todas as outras das casas da vizinhança estavam seguindo o mesmo caminho: Ruas e avenidas que levavam a estação de trem e ônibus da cidade. Pessoas e mais pessoas podiam ser vistas andando pela rua, deixando para trás tudo que tinham, assim como ele, a maioria carregando a mesma expressão escancarada em seus rostos: falta de esperança, decepção, frustração, e as vezes até mesmo um misto de essas e outras inúmeras expressões negativas. Algumas crianças pareciam confusas, tão confusas quanto o pequeno Salos, que ainda parecia dormir e andar ao mesmo tempo. Elas ocasionalmente perguntavam aos pais para onde estavam indo, o que estavam fazendo, e questões semelhantes. Alguns pais falavam a verdade, mas a maioria inventava desculpas, que estavam indo em alguma grande viagem ou coisa do tipo. Uma viagem sem volta, o dragão pensou.
Poucos carros - Sendo eles usados somente por pessoas que tinham condições financeiras muito boas - se moviam lentamente pelas ruas, geralmente buzinando para as pessoas que estavam andando no asfalto sairem do caminho. Contudo, eles eram tão incomuns que as vezes Fahl passava minutos sem ver um, e como resultado, as pessoas rapidamente se aglomeravam no asfalto novamente.
O céu ainda estava escuro, era noite e estava coberto por nuvens ainda mais escuras, ocultando completamente a lua. O véu fino de luz que banhava as ruas era provido dos postes e não iluminava as ruas de modo uniforme e nem intenso, mas de modo suficiente para reconhecer algumas pessoas ou um buraco maior na rua.
Depois de fazer algumas curvas aqui e ali, passar por alguns comércios já vazios, fechados e abandonados, então seguir uma avenida que parecia interminável, a família Demonwing já conseguiu avistar a estação, e estavam bem próximos. O local era coberto, completamente fechado e tinha poucas janelas. A única entrada utilizada eram vários conjuntos de portas duplas de vidro - que devido ao fluxo fora do normal, permaneciam quase sempre aberta. Fahl, seu irmão e seus pais deram as mãos uns aos outros para evitar que se perdessem na multidão e rapidamente adentraram a estação assim que a alcançaram.
A rua estava fria e um calor reconfortante abraçou a todos, os aquecedores da estação com certeza estavam ligados, mas a maior parte do calor do local provavelmente provinha das próprias pessoas. A estação era tão grande que Fahl se surpreendeu ao perceber que ele não conseguia ver a parede oposta da região em que ele se encontrava, embora o fluxo de pessoas com certeza colaborasse com isso. As filas para comprar passagens de ônibus ou de metro eram tão grandes que pareciam ser sem fim, todos os tipos pessoas estavam lá: Canídeos, felídeos, répteis, qualquer espécie possível de se imaginar. Todos os bancos que havia no local estavam ocupados, e como consequência, o único lugar que a família Demonwing achou para se sentar foi canto perto de um dos banheiros públicos - que exalava um odor horroroso toda vez que alguém abria a porta para entrar ou sair.
Thanos foi o único que não se sentou. Ele falou algo com Kilina que Fahl não conseguiu ouvir, e então se ajoelhou na frente dele.
- Eu vou comprar as passagens, fique aqui tomando conta do pessoal. Você é o homem da família, agora. Tentem achar um lugar melhor, mas não muito longe, e fiquem de olho naquele banco - o pai apontou para o lado - acho que aquelas pessoas vão se levantar logo. Proteja sua mãe e seu irmão se alguma coisa acontecer, uma família tem que sempre ficar junta, não importa como. - Thanos deu um sorriso amigável e deu as costas para o filho, misturando-se rapidamente com a multidão que estava na estação.
Passaram-se 10, 20, 30 minutos e nada de Thanos voltar. Salos frequentemente reclamava do cheiro do local em que estavam e que estava entediado, o que fazia Fahl ficar um pouco irritado com ele, porque ele também estava enfrentando os mesmos problemas. Kilina, no entanto, parecia distante dali. Seus olhos amarelos e profundos estava fixos hora no teto da estação, hora em algum ponto vazio. Embora Fahl gostaria de saber, ele não fazia idéia do que estava passando na mente de sua mãe. Ela estava definitivamente preocupada com algo. Ou entediada, como eles, concluiu.
O dragão negro avisou a sua mãe que pegaria a revista que trouxera do SuperFur. Ela pareceu sair momentaneamente de seu transe, tirou a mochila que estava em suas costas e a HQ logo em seguida, de dentro de um dos zípers, entregando-a para o filho em seguida. Fahl então se aproximou de seu irmão, dizendo:
- Okay, por que não lemos essa revista juntos? O tempo vai passar, assim.
- Ah, mas o SuperFur é muito apelão...
- Salos, eu sei que você não gosta muito do SuperFur, mas você vai gostar dessa revista, sério! E se você não gostar, o que eu duvido muito, eu paro de ler, ué.
- Okaaaaaaay.... - Salos concordou, um pouco relutante. - Mas só porque tô muito entediado.
Assim que Fahl começou a ler as primeiras páginas da HQ, ele deu o seu melhor para imitar vozes diferentes para os personagens - alguns de modo tão mal que Salos riu - algo chamou a sua atenção. Era um objeto que tinha acabado de cair, ou pelo menos parecia. Tratava-se de um boneco de pano pequeno, um gato com olhos enormes e delicados, com uma coleira verde e um sino amarelo atado à ela. O boneco caiu em uma região estranha, perto demais das pernas do dragão, que estavam esticadas. Fahl estendeu o braço e segurou o boneco, e então olhou em volta, procurando o possível dono do brinquedo. Depois de ver muitos adultos, adolescentes, crianças e bebês nos colos de suas mães, seus olhos pousaram em uma gata completamente branca que estava olhando diretamente para ele, a não mais que 20 metros de distância.
Ela não parecia ser mais velha que o dragão, e se fosse, um ou dois anos no máximo. Tinha cabelos curtos para uma garota, quase que alcançando os ombros e negros, levemente espetados e que eram ainda mais realçados por causa de sua pelagem branca. Seus olhos eram grandes e arredondados, chamativos e amarelos, e demonstravam uma quantidade notável de timidez. No momento em que Fahl entregou a revista para o irmão e se preparou para levantar, a menina ficou corada. O garoto logo percebeu que se ela tivesse a chance de se enterrar no chão ou sumir de qualquer outro modo, ela com certeza o faria. O dragão imaginou toda a cena e ele esboçou um sorriso, prendendo um riso.
Algumas pessoas frequentemente passavam na frente dos jovens que se olhavam, mas isso não os fazia desviar os olhos um do outro, ambos estavam parados e sem mover um músculo; dentro de suas mentes, era mais do que claro que um disse "oi" para o outro. Fahl examinou melhor as roupas da gata - um cazaco marrom com detalhes em preto e um capuz, calça jeans e botas azuis que lembravam um all-star mais grosso, próprios para o frio. O dragão começou a se perguntar se ela tinha somente derrubado o seu boneco sem querer ou se tinha jogado perto dele por querer, afinal, ela estava tão longe... Não que isso importasse. Um sentimento feliz começava a invadir o seu peito, que parecia durar uma eternidade, e ao mesmo tempo, parecia ser tão breve quanto segundos.
O garoto deixou a HQ com o irmão, pediu para ele continuar lendo sem ele e que voltaria logo. Ele então se colocou de pé e caminhou em direção a garota, vez ou outra trombando em alguma pessoa que passava com muita pressa. Ele ocasionalmente coçava a nuca ou desviava um pouco o olhar para o lado, um tanto nervoso, geralmente pensando no que iria falar quando chegasse na garota. No entanto, quando ele se deu conta, já estava a dois passos de distância dela.
- Ehrn... Olha, toma conta melhor do seu boneco, você pode acabar perdendo ele num lugar assim... Tá tudo tão cheio e...
- Eu prometo que vou ter mais cuidado. - Ela respondeu de volta, em tom alegre - Qual seu nome?
- Fahl! - ele respondeu rápido como uma bala, quase como se soubesse o que a garota iria perguntar.
- Ah... Fahl. Que nome estranho. Mas eu gostei! O meu é Scarlett. Com dois "T"s.
- Ah é? Eu não sei por que, mas combina com você, Scarlett. - Seus olhos divagaram para a estação um momento, e ele voltou a encarar a felina - Que ruim que a gente se conheceu nessa situação, né?
- O que você quer dizer? - Ela abraçou o boneco com ambos os braços e tombou a cabeça um pouco para o lado.
- Nessa bagunça... Quer dizer, a gente provavelmente não vai mais se falar, já que nós vamos pra sabe deus onde... Meu pai foi comprar passagens, mas ele não falou pra onde.
- Ah, não tem problema! Olha, eu tenho um celular, a gente pode se falar. - Ela deu um sorriso tão radiante que até mostrou a ponta de suas presas.
Um celular! Só gente rica tinha celulares, o dragão negro rapidamente se lembrou do dia que viu algumas propagandas de celular em sua televisão e pediu ao seu pai um. Ele sempre dizia que "eram uma merda inútil que as pessoas usam para mostrar que têm dinheiro.". Bem, Scarlett não podia ser daquele jeito, ela era tão simples...
- Wow. Vai me dar o número?
- Claro, claro, só me dá um papel pra anotar. Aliás, esquece. - Ela abriu uma pequena bolsinha que estava a tiracolo em seu ombro e pegou um pequeno caderno roxo, com algumas estrelas desenhadas em sua capa. Ela rasgou um pedaço de papel pequeno e rapidamente escreveu com uma caneta vermelha que estava enroscada no espiral do caderno e entregou o bilhete para o dragão negro. - Toma, tá aí.
- Obrigado... Scarlett, né?
- É. Não esquece que é com dois "T"s!
- Eu não vou - ele sorriu, feliz - não vou mesmo.
No entanto, o sorriso logou sumiu, pois sua mente rapidamente o fez lembrar de Salos. Seus olhos se desviaram para onde estava seu irmão, mas tudo estava tranquilo, tanto ele como sua mãe estavam no mesmo lugar de antes, com a diferença de que ele estava encarando as ilustrações das páginas frequentemente tombando a cabeça para o lado e fazendo expressões engraçadas, algo entre confuso e curioso, provavelmente tentando adivinhar o que estava escrito em cada balão de diálogo presente na revista.
- É seu irmão? E aquela é sua mãe? Wow, ela é bem nova!
- É, eles são minha família. - Fahl parou de olhar para Salos e Kilina, pousando seus olhos na nova amiga - Falando nisso, onde tá a sua?
- A minha mãe e meu pai se separaram quando eu era nova, e eu decidi ficar com a minha mãe. Agora, ela foi comprar as nossas passagens e me disse pra ficar aqui.
-Ahhh, desculpa te fazer lembrar dessas coisas, deve ser horrível isso. Os pais se separarem.
- Que nada, tá tudo bem. Eu mal lembro do rosto do meu pai, hoje em dia. Nunca fui muito apegada a ele.
-Entendo... - Fahl abaixou o olhar por um segundo, sem saber muito o que falar, mas rapidamente o ergueu para ver os lindos olhos da felina - Será que a gente vai se ver de novo algum dia?
- Claro que a gente vai! Amigos de verdade não se separam, não importa a distância. Tô errada? - Ela deu um sorriso gentil e cutucou a lateral do braço do dragão com um de seus cotovelos.
De repente, uma vez feminina e aparentemente irritada disse no meio da multidão, próximo dos dois amigos:
- O quê?! Com quem você tá falando?
Fahl virou a cabeça, assustado com a voz que soou atrás de seu corpo.
- Ah, oi mãe! - Scarlett logo acenou, com um sorriso - Eu sem querer derrubei o meu boneco e ele pegou pra mim!
O dragão examinou melhor a mãe de Scarlett. Era bastante alta para uma mulher, tinha pelagem de cor chocolate e com algumas pintas maiores e outras menores de cor branca, eram numerosas principalmente no rosto. Usava sapatos de salto alto de cor vermelho-escuro, calças pretas feitas de um material bonito e que o dragão desconhecia, provavelmente por ser caro, e um terno feminino azul escuro. Parecia ser uma executiva ou alguém muito importante que trabalhava em alguma grande empresa.
- Eu te disse pra não falar com estranhos. - ela repreendeu a filha - De qualquer modo, a gente precisa ir logo. Nosso ônibus vai embora em 5 minutos e a gente não pode perdê-lo de jeito nenhum, essas passagens foram caras demais. Vamos.
-Ah, tudo bem, mãe... - Scarlett fitou o dragão - Bem, foi bom te conhecer, Fahl. Não perde meu número e me chame assim que você puder! - Ela se virou e começou a acompanhar a mãe, fazendo um grande esforço para andar tão rápido como ela. - Eu prometo que a gente vai se ver de novo! - Ela se virou um pouco e acenou para o dragão, sumindo na multidão um ou dois segundos depois.
Fahl encarou o pedaço de papel que estava em suas mãos e disse:
- Número de telefone, hein? Isso aí! Pode deixar, Scarlett.
Ele voltou a olhar para o local que estava a sua mãe, e todos ainda estavam lá, para seu alívio. Logo após isso, aproximou-se lentamente do irmão, sentando-se ao seu lado.
- E aí, tá se divertindo?
- Não! Eu não consigo ler! Tava tão legal, lê pra mim, irmão!
No momento em que o dragão disse que iria fazer o que o irmão mais novo pedira, ele ouviu uma voz familiar, a do seu pai. Ele estava gritando "Merda!" muitas vezes, desde a época que vinha de longe. Thanos alcançou a esposa rapidamente, em poucos passos longos, quase que correndo.
Fahl ouviu claramente seu pai dizendo que não havia mais passagens vendendo, que estavam todas vendidas, tanto as de trem como as de ônibus. Ele procurou taxis, mas não encontrou nada. Não havia nada que ele ou algum membro da família poderia fazer.
Capítulo 3
FIM
Capítulo Anterior: http://www.furaffinity.net/view/15576062/
Próximo Capítulo: Em breve!
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Assim que a família se pôs a andar, Thanos solicitou a Kilina e ao Fahl que escondessem suas armas, e eles o fizeram facilmente ao colocá-las em seus bolsos. Thanos, devido ao tamanho de sua shotgun, teve de colocá-la no espaço que havia entre suas costas e a mochila, o que tornou as coisas um tanto quando desconfortáveis. Não que ele ligasse muito para isso, de qualquer modo.
Fahl olhou em volta e notou que não só a família dele, mas todas as outras das casas da vizinhança estavam seguindo o mesmo caminho: Ruas e avenidas que levavam a estação de trem e ônibus da cidade. Pessoas e mais pessoas podiam ser vistas andando pela rua, deixando para trás tudo que tinham, assim como ele, a maioria carregando a mesma expressão escancarada em seus rostos: falta de esperança, decepção, frustração, e as vezes até mesmo um misto de essas e outras inúmeras expressões negativas. Algumas crianças pareciam confusas, tão confusas quanto o pequeno Salos, que ainda parecia dormir e andar ao mesmo tempo. Elas ocasionalmente perguntavam aos pais para onde estavam indo, o que estavam fazendo, e questões semelhantes. Alguns pais falavam a verdade, mas a maioria inventava desculpas, que estavam indo em alguma grande viagem ou coisa do tipo. Uma viagem sem volta, o dragão pensou.
Poucos carros - Sendo eles usados somente por pessoas que tinham condições financeiras muito boas - se moviam lentamente pelas ruas, geralmente buzinando para as pessoas que estavam andando no asfalto sairem do caminho. Contudo, eles eram tão incomuns que as vezes Fahl passava minutos sem ver um, e como resultado, as pessoas rapidamente se aglomeravam no asfalto novamente.
O céu ainda estava escuro, era noite e estava coberto por nuvens ainda mais escuras, ocultando completamente a lua. O véu fino de luz que banhava as ruas era provido dos postes e não iluminava as ruas de modo uniforme e nem intenso, mas de modo suficiente para reconhecer algumas pessoas ou um buraco maior na rua.
Depois de fazer algumas curvas aqui e ali, passar por alguns comércios já vazios, fechados e abandonados, então seguir uma avenida que parecia interminável, a família Demonwing já conseguiu avistar a estação, e estavam bem próximos. O local era coberto, completamente fechado e tinha poucas janelas. A única entrada utilizada eram vários conjuntos de portas duplas de vidro - que devido ao fluxo fora do normal, permaneciam quase sempre aberta. Fahl, seu irmão e seus pais deram as mãos uns aos outros para evitar que se perdessem na multidão e rapidamente adentraram a estação assim que a alcançaram.
A rua estava fria e um calor reconfortante abraçou a todos, os aquecedores da estação com certeza estavam ligados, mas a maior parte do calor do local provavelmente provinha das próprias pessoas. A estação era tão grande que Fahl se surpreendeu ao perceber que ele não conseguia ver a parede oposta da região em que ele se encontrava, embora o fluxo de pessoas com certeza colaborasse com isso. As filas para comprar passagens de ônibus ou de metro eram tão grandes que pareciam ser sem fim, todos os tipos pessoas estavam lá: Canídeos, felídeos, répteis, qualquer espécie possível de se imaginar. Todos os bancos que havia no local estavam ocupados, e como consequência, o único lugar que a família Demonwing achou para se sentar foi canto perto de um dos banheiros públicos - que exalava um odor horroroso toda vez que alguém abria a porta para entrar ou sair.
Thanos foi o único que não se sentou. Ele falou algo com Kilina que Fahl não conseguiu ouvir, e então se ajoelhou na frente dele.
- Eu vou comprar as passagens, fique aqui tomando conta do pessoal. Você é o homem da família, agora. Tentem achar um lugar melhor, mas não muito longe, e fiquem de olho naquele banco - o pai apontou para o lado - acho que aquelas pessoas vão se levantar logo. Proteja sua mãe e seu irmão se alguma coisa acontecer, uma família tem que sempre ficar junta, não importa como. - Thanos deu um sorriso amigável e deu as costas para o filho, misturando-se rapidamente com a multidão que estava na estação.
Passaram-se 10, 20, 30 minutos e nada de Thanos voltar. Salos frequentemente reclamava do cheiro do local em que estavam e que estava entediado, o que fazia Fahl ficar um pouco irritado com ele, porque ele também estava enfrentando os mesmos problemas. Kilina, no entanto, parecia distante dali. Seus olhos amarelos e profundos estava fixos hora no teto da estação, hora em algum ponto vazio. Embora Fahl gostaria de saber, ele não fazia idéia do que estava passando na mente de sua mãe. Ela estava definitivamente preocupada com algo. Ou entediada, como eles, concluiu.
O dragão negro avisou a sua mãe que pegaria a revista que trouxera do SuperFur. Ela pareceu sair momentaneamente de seu transe, tirou a mochila que estava em suas costas e a HQ logo em seguida, de dentro de um dos zípers, entregando-a para o filho em seguida. Fahl então se aproximou de seu irmão, dizendo:
- Okay, por que não lemos essa revista juntos? O tempo vai passar, assim.
- Ah, mas o SuperFur é muito apelão...
- Salos, eu sei que você não gosta muito do SuperFur, mas você vai gostar dessa revista, sério! E se você não gostar, o que eu duvido muito, eu paro de ler, ué.
- Okaaaaaaay.... - Salos concordou, um pouco relutante. - Mas só porque tô muito entediado.
Assim que Fahl começou a ler as primeiras páginas da HQ, ele deu o seu melhor para imitar vozes diferentes para os personagens - alguns de modo tão mal que Salos riu - algo chamou a sua atenção. Era um objeto que tinha acabado de cair, ou pelo menos parecia. Tratava-se de um boneco de pano pequeno, um gato com olhos enormes e delicados, com uma coleira verde e um sino amarelo atado à ela. O boneco caiu em uma região estranha, perto demais das pernas do dragão, que estavam esticadas. Fahl estendeu o braço e segurou o boneco, e então olhou em volta, procurando o possível dono do brinquedo. Depois de ver muitos adultos, adolescentes, crianças e bebês nos colos de suas mães, seus olhos pousaram em uma gata completamente branca que estava olhando diretamente para ele, a não mais que 20 metros de distância.
Ela não parecia ser mais velha que o dragão, e se fosse, um ou dois anos no máximo. Tinha cabelos curtos para uma garota, quase que alcançando os ombros e negros, levemente espetados e que eram ainda mais realçados por causa de sua pelagem branca. Seus olhos eram grandes e arredondados, chamativos e amarelos, e demonstravam uma quantidade notável de timidez. No momento em que Fahl entregou a revista para o irmão e se preparou para levantar, a menina ficou corada. O garoto logo percebeu que se ela tivesse a chance de se enterrar no chão ou sumir de qualquer outro modo, ela com certeza o faria. O dragão imaginou toda a cena e ele esboçou um sorriso, prendendo um riso.
Algumas pessoas frequentemente passavam na frente dos jovens que se olhavam, mas isso não os fazia desviar os olhos um do outro, ambos estavam parados e sem mover um músculo; dentro de suas mentes, era mais do que claro que um disse "oi" para o outro. Fahl examinou melhor as roupas da gata - um cazaco marrom com detalhes em preto e um capuz, calça jeans e botas azuis que lembravam um all-star mais grosso, próprios para o frio. O dragão começou a se perguntar se ela tinha somente derrubado o seu boneco sem querer ou se tinha jogado perto dele por querer, afinal, ela estava tão longe... Não que isso importasse. Um sentimento feliz começava a invadir o seu peito, que parecia durar uma eternidade, e ao mesmo tempo, parecia ser tão breve quanto segundos.
O garoto deixou a HQ com o irmão, pediu para ele continuar lendo sem ele e que voltaria logo. Ele então se colocou de pé e caminhou em direção a garota, vez ou outra trombando em alguma pessoa que passava com muita pressa. Ele ocasionalmente coçava a nuca ou desviava um pouco o olhar para o lado, um tanto nervoso, geralmente pensando no que iria falar quando chegasse na garota. No entanto, quando ele se deu conta, já estava a dois passos de distância dela.
- Ehrn... Olha, toma conta melhor do seu boneco, você pode acabar perdendo ele num lugar assim... Tá tudo tão cheio e...
- Eu prometo que vou ter mais cuidado. - Ela respondeu de volta, em tom alegre - Qual seu nome?
- Fahl! - ele respondeu rápido como uma bala, quase como se soubesse o que a garota iria perguntar.
- Ah... Fahl. Que nome estranho. Mas eu gostei! O meu é Scarlett. Com dois "T"s.
- Ah é? Eu não sei por que, mas combina com você, Scarlett. - Seus olhos divagaram para a estação um momento, e ele voltou a encarar a felina - Que ruim que a gente se conheceu nessa situação, né?
- O que você quer dizer? - Ela abraçou o boneco com ambos os braços e tombou a cabeça um pouco para o lado.
- Nessa bagunça... Quer dizer, a gente provavelmente não vai mais se falar, já que nós vamos pra sabe deus onde... Meu pai foi comprar passagens, mas ele não falou pra onde.
- Ah, não tem problema! Olha, eu tenho um celular, a gente pode se falar. - Ela deu um sorriso tão radiante que até mostrou a ponta de suas presas.
Um celular! Só gente rica tinha celulares, o dragão negro rapidamente se lembrou do dia que viu algumas propagandas de celular em sua televisão e pediu ao seu pai um. Ele sempre dizia que "eram uma merda inútil que as pessoas usam para mostrar que têm dinheiro.". Bem, Scarlett não podia ser daquele jeito, ela era tão simples...
- Wow. Vai me dar o número?
- Claro, claro, só me dá um papel pra anotar. Aliás, esquece. - Ela abriu uma pequena bolsinha que estava a tiracolo em seu ombro e pegou um pequeno caderno roxo, com algumas estrelas desenhadas em sua capa. Ela rasgou um pedaço de papel pequeno e rapidamente escreveu com uma caneta vermelha que estava enroscada no espiral do caderno e entregou o bilhete para o dragão negro. - Toma, tá aí.
- Obrigado... Scarlett, né?
- É. Não esquece que é com dois "T"s!
- Eu não vou - ele sorriu, feliz - não vou mesmo.
No entanto, o sorriso logou sumiu, pois sua mente rapidamente o fez lembrar de Salos. Seus olhos se desviaram para onde estava seu irmão, mas tudo estava tranquilo, tanto ele como sua mãe estavam no mesmo lugar de antes, com a diferença de que ele estava encarando as ilustrações das páginas frequentemente tombando a cabeça para o lado e fazendo expressões engraçadas, algo entre confuso e curioso, provavelmente tentando adivinhar o que estava escrito em cada balão de diálogo presente na revista.
- É seu irmão? E aquela é sua mãe? Wow, ela é bem nova!
- É, eles são minha família. - Fahl parou de olhar para Salos e Kilina, pousando seus olhos na nova amiga - Falando nisso, onde tá a sua?
- A minha mãe e meu pai se separaram quando eu era nova, e eu decidi ficar com a minha mãe. Agora, ela foi comprar as nossas passagens e me disse pra ficar aqui.
-Ahhh, desculpa te fazer lembrar dessas coisas, deve ser horrível isso. Os pais se separarem.
- Que nada, tá tudo bem. Eu mal lembro do rosto do meu pai, hoje em dia. Nunca fui muito apegada a ele.
-Entendo... - Fahl abaixou o olhar por um segundo, sem saber muito o que falar, mas rapidamente o ergueu para ver os lindos olhos da felina - Será que a gente vai se ver de novo algum dia?
- Claro que a gente vai! Amigos de verdade não se separam, não importa a distância. Tô errada? - Ela deu um sorriso gentil e cutucou a lateral do braço do dragão com um de seus cotovelos.
De repente, uma vez feminina e aparentemente irritada disse no meio da multidão, próximo dos dois amigos:
- O quê?! Com quem você tá falando?
Fahl virou a cabeça, assustado com a voz que soou atrás de seu corpo.
- Ah, oi mãe! - Scarlett logo acenou, com um sorriso - Eu sem querer derrubei o meu boneco e ele pegou pra mim!
O dragão examinou melhor a mãe de Scarlett. Era bastante alta para uma mulher, tinha pelagem de cor chocolate e com algumas pintas maiores e outras menores de cor branca, eram numerosas principalmente no rosto. Usava sapatos de salto alto de cor vermelho-escuro, calças pretas feitas de um material bonito e que o dragão desconhecia, provavelmente por ser caro, e um terno feminino azul escuro. Parecia ser uma executiva ou alguém muito importante que trabalhava em alguma grande empresa.
- Eu te disse pra não falar com estranhos. - ela repreendeu a filha - De qualquer modo, a gente precisa ir logo. Nosso ônibus vai embora em 5 minutos e a gente não pode perdê-lo de jeito nenhum, essas passagens foram caras demais. Vamos.
-Ah, tudo bem, mãe... - Scarlett fitou o dragão - Bem, foi bom te conhecer, Fahl. Não perde meu número e me chame assim que você puder! - Ela se virou e começou a acompanhar a mãe, fazendo um grande esforço para andar tão rápido como ela. - Eu prometo que a gente vai se ver de novo! - Ela se virou um pouco e acenou para o dragão, sumindo na multidão um ou dois segundos depois.
Fahl encarou o pedaço de papel que estava em suas mãos e disse:
- Número de telefone, hein? Isso aí! Pode deixar, Scarlett.
Ele voltou a olhar para o local que estava a sua mãe, e todos ainda estavam lá, para seu alívio. Logo após isso, aproximou-se lentamente do irmão, sentando-se ao seu lado.
- E aí, tá se divertindo?
- Não! Eu não consigo ler! Tava tão legal, lê pra mim, irmão!
No momento em que o dragão disse que iria fazer o que o irmão mais novo pedira, ele ouviu uma voz familiar, a do seu pai. Ele estava gritando "Merda!" muitas vezes, desde a época que vinha de longe. Thanos alcançou a esposa rapidamente, em poucos passos longos, quase que correndo.
Fahl ouviu claramente seu pai dizendo que não havia mais passagens vendendo, que estavam todas vendidas, tanto as de trem como as de ônibus. Ele procurou taxis, mas não encontrou nada. Não havia nada que ele ou algum membro da família poderia fazer.
Capítulo 3
FIM
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